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A Evolução do Mundo Corporativo


O modelo empresarial de inovação de cinqüenta anos atrás previa um longo período de adaptação, onde era natural um volume razoável de tentativas e erros até chegar ao novo projeto efetivo e ainda assim jamais perfeito. Quem não gostasse dos resultados podia optar por uma adaptação mais lenta, em alguns casos de administração mais paternalista, ou optar pela saída do quadro funcional, em casos de uma administração mais rígida. Esse tempo mais longo era possível graças às possibilidades de expansão em um mercado menos competitivo. As empresas, líderes em seus setores, tinham essa zona de conforto por terem acesso e domínio de informações privilegiadas aliadas a dificuldades geográficas de concorrentes distantes.

Dentro dessa máquina com poucas variáveis existia a peça chamada funcionário. Sua alcunha vinha exatamente da palavra função, pois bastava bater o cartão e passar a funcionar no horário marcado, cumprindo uma lista relativamente simples de procedimentos, atendendo a seqüência institucionalizada por Henry Ford. Produtividade era a chave para o sucesso e para fechar qualquer conta bastava aumentar o volume de horas trabalhadas ou, em alguns casos especiais, o número de funcionários.

No início da Era Industrial a fabricação em série liquidou com o artesão, criando produtos cada vez mais baratos e acessíveis a um número maior de pessoas. Essa facilidade de acesso a comodidades proporcionou, por sua vez, melhores condições de vida e o conseqüente aumento populacional. Esse modelo industrial fortaleceu um modelo econômico e social de progressão geométrica do consumo. As indústrias basearam seus planos futuros nessa progressão, se tornando cada vez mais dependentes dela. A novidade passou a ser considerada pelo consumidor um diferencial, principalmente na busca por status. Então a indústria passou a buscar avidamente esse mercado de novidades, patrocinando interna e externamente novas descobertas, para atender aos planos futuros de expansão, conquistando cada vez mais clientes.

As descobertas se multiplicando, muitas delas advindas das guerras, foram criando meios de acelerar seu próprio crescimento a partir das melhorias nos meios de comunicação, que proporcionavam maior acesso ao conhecimento. O modelo de internet hoje tão conhecido surgiu com base em um modelo militar de comunicação, em caso de falência das linhas telefônicas, mais tarde adaptado e difundido pelas universidades. A troca de informações depois desse advento se acelerou e superou barreiras geográficas, tornando o acesso ao conhecimento cada vez mais democrático.

Até esse ponto as trocas de know-how dentro do mercado se davam por este ou aquele executivo, que eventualmente trocava uma empresa por outra através de ofertas e contratos envolvendo altas somas, ou através da temida espionagem industrial. Foi benéfico para as empresas poderem também ter essa capacidade de interligação quase instantânea com suas filiais, mas em contrapartida os modelos de gestão e investimentos, que levaram anos para serem desenvolvidos com sucesso, passaram a ser compartilhados de forma muito mais rápida e abrangente. Informações antes guardadas a sete chaves passaram a ser quase públicas, fomentando a criação e melhoria dos concorrentes. O que antes era o diferencial passou a ser padrão, sendo que a maioria passou a usar conceitos como benchmark na busca contínua de novos modelos de sucesso.

O consumidor também passou a ter um número maior de informações, deixando de ser induzido por vendedores que, até o momento, detinham o ‘poder’ das informações técnicas e de mercado; o próprio consumidor passou a poder consultar de forma direta fóruns de discussão sobre a qualidade dos produtos e pesquisar faixas de preço sentado na sua sala. Essa maior exigência de qualidade versus preço, em conjunto com a busca pelo novo, passou a exigir mais das empresas tanto em termos de organização quanto de adaptação, em espaços de tempo cada vez mais curtos. Com isso o modelo antigo de longos períodos de transição, com margem para um volume significativo de erros, passou a ser sinônimo de fracasso e os números girando em torno das melhorias na produção passaram a ser o básico.

As fotos, com características do produto que ainda vai ser lançado na China, já estão na galeria de imagens do celular da criança brasileira que acabou de aprender a ler. O problema? Elas estão aprendendo a ler cada vez mais rápido! Muitas já começam a questionar até mesmo antes disso, com base na interpretação das imagens e no que ouvem de colegas mais velhos. Por mais incrível que possa parecer, muitos de nós já presenciaram a cena em que, pequenas pessoas de três ou quatro anos, não só sabem utilizar um celular como pedem o novo modelo que ainda nem foi lançado, porque tem maior memória para aplicativos mais modernos, alguns dos quais os pais ainda não sabem usar. Os consumidores estão mais exigentes e ávidos por novidades, desde tenra idade.

Nesse novo cenário onde externamente (mercado) tudo fica mais parecido, algumas organizações deitaram no divã, buscando uma análise interna mais profunda que as contas de entrada e saída. Algumas descobriram que o investimento em melhorias em estrutura e maquinário não era mais suficiente, que as descobertas e inovações viraram uma exigência e nessa falta de possibilidades acabaram por entender que o papel do funcionário no novo mundo organizacional era vital. Em um primeiro momento passaram a investir cada vez mais no seu desenvolvimento. Como isso não bastou, já que muitas vezes perdiam esse investimento para concorrentes dispostos a pagar mais, passaram a estudar formas de retê-lo com benefícios financeiros e psicológicos. Uma boa posição no ranking de melhores empresas para se trabalhar, passou a ser um dos objetivos dos altos escalões. Conseguindo equilibrar essa conta, não sem ainda apresentar algumas perdas em seu front, veio um terceiro momento: perceberam que esse novo ativo, duramente conquistado, não atendia ao planejamento como as máquinas, nem podia mais ser tratado de acordo com o modelo antigo de função simplificada na qual ficariam até sua aposentadoria.

As estratégias de sobrevivência das empresas, atualmente focadas na sua capacidade de adaptação com relação às mudanças cada vez mais rápidas no mercado, passaram a depender cada vez mais do engajamento do antigo funcionário, agora promovido a colaborador. Essa nova perspectiva dentro de um novo modelo tornou necessário um maior entendimento no que exatamente ele tem que colaborar. Os objetivos corporativos nem sempre são de fácil compreensão e as pessoas acabam permanecendo no modelo antigo, sentindo-se “colaborando” ao executar suas funções e se apegando as mesmas, às vezes considerando que não mudar é a forma mais correta de colaborar.

Saber entender essas nuances comportamentais, buscando formas de motivar e envolver a equipe nos processos de mudança, ganhou tamanha importância que grandes empresas passaram a contratar consultorias em Gestão da Mudança ou criar departamentos com essa autonomia.

O tema parece relativamente novo, mas John P. Kotter publicou seu primeiro artigo sobre o assunto em 1995, na revista americana Harvard Business Review, intitulado “LeadingChange: WhyTransformationEffortsFail?” (traduzido para o português “Como Liderar a Mudança: Por que os Esforços de Transformação Fracassam” pela editora Campus, em 1997, na Série Harvard Review Book). Portanto já temos pelo menos 20 anos debatendo o tema nos Estados Unidos, sem atingir o ponto onde temos um modelo confiável adaptado a realidade brasileira.

É dentro desse cenário corporativo, com essas necessidades ainda sendo em parte interpretadas e desenvolvidas, que os pesquisadores pioneiros destacam como um dos pontos chave dessa gestão o engajamento do colaborador, com as lideranças mais atentas ao entendimento e adequação de acordo com o perfil de cada membro da equipe.

Em um próximo artigo apresentarei os resultados de uma pesquisa que desenvolvi, embasada nos autores tradicionais e contemporâneos, que busca melhorar o entendimento do perfil do colaborador moderno, para alinhar novas estratégias de liderança dentro do ambiente corporativo.

Obrigada pela sua atenção!

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